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Bacurau mostra como derrotar os ataques bolsonários

Mídia 4P: a saída está na luta das periferias
publicado 04/09/2019
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Divulgação

O Conversa Afiada reproduz artigo de Israel Campos, doutorando em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mestre em Gestão Social e Bacharel em Humanidades, ao portal Mídia 4P, a respeito do filme Bacurau:

Bacurau: o povo contra-ataca!


Bacurau, novo filme dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, traz um Brasil de “alguns anos no futuro”, mas que nos remete constantemente ao passado e principalmente ao presente.

Em síntese, para quem não conhece a sinopse da obra, o filme se passa em uma pequena cidade no Nordeste em que alguns fatos “estranhos” começam a ocorrer: assassinatos, uma disputa tensa e violenta pela água potável, além da presença de forasteiros na cidade.

O que torna tudo singular e intenso é que o filme não se acomoda no peso desses aspectos das realidades brasileiras, seja quando pensamos no interior do Nordeste ou nas periferias urbanas.

O que há de forte, de resiliente, de único na identidade cultural nordestina está presente a todo tempo. Há dor, mas há raiz para superá-la. Há perdas, mas há ganhos para seguir em frente.

Nesse panorama integral de um povo, temos a cara do Nordeste: negra (preta, parda e “sarará”) e algumas pessoas de pele mais clara. Todas(os) são nordestinas(os). Os “forasteiros” nos trazem a uma discussão racial, derrubando de forma pedagógica e artística o “mito da democracia racial” – ou seja, a mentira em que “no Brasil não existe racismo” e de que “todos somos iguais em Direitos”. Sudestinos, estrangeiros e nordestinos se encontram em um triângulo que demonstra, pelos olhos dos diretores, que o país nunca foi uma nação racialmente democrática e dificilmente seremos. Nesse ponto, Bacurau nos traz questionamentos sobre o futuro: como venceremos tantos agentes de violadores de Direitos Humanos, onde os alvos são os grupos historicamente oprimidos? Parcelas do Estado brasileiro, do setor privado e dos agentes internacionais promovem o genocídio do povo negro, mas como iremos revidar? Como diferenciar quem é aliado de quem é inimigo?

Bacurau é um retrato do povo que tem dois dos Direitos Humanos mais violados pelo “outro”, mas também pelo próximo: o direito à vida e a dignidade da pessoa humana. Bacurau, a sua comunidade, tem sabedoria para distinguir cada ator social, demonstrando sua inteligência de como agir em cada contexto: sabe quando rir, sabe quando ser sério, sabe quando apanhar, mas sabe também como revidar.

O filme nos faz pensar: qual a solução contra governos que querem destruir o seu próprio povo? Essa situação, aliás, não é exclusiva do país, mas presente na história mundial, como a exemplo de alguns governos neocolonialistas africanos e alguns governos neonazistas europeus. Qual será, portanto, o fundamento para o contra-ataque?

Trazendo o contexto do filme para o espaço da realidade periférica urbana em Salvador (Bahia) em um projeto de educação em direitos humanos temos a Península de Itapagipe, um território formado por 14 bairros e que é povoado e construído por mais de 200.000 pessoas. Um território que cresce economicamente, mas continua necessitando de investimento financeiro; que ganhou uma santa católica, a Santa Dulce, mas precisa de políticas públicas antirracistas que cessem o genocídio do povo negro.

Uma líder desse território, uma mulher experiente, negra, forte e brasileira disse:

“Pensando no futuro, não temo essas violações sistemáticas de direitos, não temo mesmo. Sabe o porquê? Foi através das “Mulheres da Lage”, pois aprendi a defender meus pretos por causa dessa mulheres que me ensinaram que o nosso povo não tem dono. Nós somos os donos de nós mesmo. Porque estamos nos unindo cada vez mais. As escolas comunitárias, escolas do povo, para o povo, estão se fortalecendo, os movimentos sociais estão regando suas raízes, o povo negro está se reconhecendo enquanto povo negro”.

Bacurau demonstra que se existe alguma democracia racial possível, ela se encontra em comunidades, com pessoas negras e não negras convivendo e construindo a sociedade com uma forte identificação ao território, ao próprio povo. Bacurau, a Península de Itapagipe e outros territórios (vivos) resistem, vencem e prosperarão pelas chaves que constroem para as crises que vivemos: a união e o conhecimento. Essas comunidades nos ensinam que o individualismo, pregado pelo sistema como o caminho, fracassou. A educação, a história, os direitos e a construção de uma sociedade do povo e para o povo são o futuro. Unam-se para o contra-ataque, contra o racismo, para um futuro possível, para um futuro sim!

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