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Até nos EUA quem financia a ciência é o Estado!

Certos são os Bolsonários, contra a educação...
publicado 28/05/2019
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Manifestantes bolsonaristas arrancam a faixa "Em Defesa da Educação", na frente do prédio da UFPR, Curitiba, 26/V (Reprodução: Hora do Povo)

Do Jornal da USP:

Nos países desenvolvidos, o dinheiro que financia a ciência na universidade é público


Para quem tem dúvida, os números esclarecem sem rodeios: no mundo desenvolvido, universidades e outras instituições de pesquisa são financiadas majoritariamente com recursos públicos – isso vale até mesmo para as universidades que cobram mensalidades. No caso dos Estados Unidos, 60% do dinheiro para a pesquisa vêm dessa fonte; na Europa, 77%. Há poucas semanas, para garantir a “prosperidade em longo prazo”, a Alemanha anunciou o investimento de 160 bilhões de euros no ensino superior e em pesquisa científica para a próxima década. Embora o Brasil enfrente desafios que as nações mais ricas não conhecem, mesmo por aqui não dá para imaginar que haverá desenvolvimento sem cuidar desse setor.

Antes mesmo de assumir o cargo, o ministro das Ciências, Tecnologia e Comunicações Marcos Pontes anunciou que uma de suas prioridades seria incentivar parcerias entre empresas e universidades públicas no País, para que o setor privado investisse mais em pesquisa. Para as instituições, recurso é sempre bem-vindo. Mas a declaração também pode reforçar um discurso falacioso repetido ultimamente: a ideia de que, por si só, o capital privado – seja via parcerias, endowment (doações de ex-alunos, por exemplo) ou cobrança de mensalidades – seria a salvação para o financiamento da ciência e da universidade.

O reitor da USP Vahan Agopyan afirmou que estudos já feitos na instituição mostram que o dinheiro vindo de eventuais mensalidades não chegariam a 8% do orçamento. “Uma universidade de pesquisa é cara”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo. Para Mauro Bertotti, professor do Instituto de Química da USP, “essas instituições requerem vultosos recursos para cumprir suas funções, pois elas geralmente mantêm hospitais universitários e museus, executam numerosos serviços de extensão, formam a elite dos professores do País e nelas são desenvolvidas pesquisas que dependem de insumos e equipamentos sofisticados.” Assim, o ensino básico não pode ser comparado com ensino superior. “A amplitude das ações desenvolvidas em uma universidade pública é infinitamente maior do que a das praticadas na escola básica, restritas ao ensino, e isso explica por que o cálculo total de recursos por aluno é uma falácia”, afirmou em artigo no Jornal da USP. (...)




Reprodução/Jornal da USP

Do Canadá à China
Em seu doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Danilo de Melo Costa fez um estudo comparativo entre Brasil, Canadá e China sobre o financiamento público da educação superior.

De acordo com o pesquisador, no Canadá, o dinheiro público representa de 55% a 60% do financiamento das universidades e na China, de 40% a 45%. No caso chinês, ele ressalta que existem dois projetos governamentais que concedem apoio financeiro adicional às universidades. “No Projeto 211, o apoio se dá para as cem melhores do país, com o intuito de ajudá-las a alcançar o status de universidades worldclass (de ‘classe mundial’). Já o Projeto 985 concede apoio ainda mais generoso a um grupo especial de 39 universidades, com uma concentração maior de recursos para as Universidades de Pequim e Tsinghua, com o objetivo de impulsioná-las para as vinte melhores do mundo”, relata.

Sobre o peso do financiamento privado no orçamento das universidades, ele destaca que universidades consideradas worldclass têm mais predisposição para atrair parceria, “mas, de modo geral, em ambos os países se observou uma média entre 15% a 20% de investimento de empresas privadas.”

Para Danilo Costa, a estratégia de sucesso nestes países foi a diversificação das fontes de financiamento e não a completa ruptura de um modelo de orçamento. Ele é a favor de uma maior aproximação do setor privado com a academia aqui no Brasil, mas enfatiza que “o Estado é, sim, fundamental. Em momentos de prosperidade econômica, existe uma predisposição das empresas investirem mais nas universidades, mas durante uma recessão, este incentivo vai fatalmente diminuir”. Para ele, se esta for a única fonte de sustentação, as universidades enfrentarão graves problemas e terão ameaçada até sua continuidade.

Por fim, ele aponta que investimento nas universidades é considerado prioridade nessas nações. É quase uma unanimidade que “a expansão da educação superior na China foi preponderante para o destacável crescimento econômico vivenciado pelo país.” O Canadá, diz ele, é outro país que investe maciçamente em educação, e que objetiva atingir o chamado sistema universal, deixando a educação superior disponível para todos que vislumbrem frequentá-la.

“Na minha pesquisa, dados de 2003 a 2012 demonstraram que o porcentual do PIB investido em educação superior no Canadá passou de 2,4% em 2003 para 2,8% em 2012. Já na China, o porcentual do PIB investido no setor passou de 1,1% em 2003 para 1,5% em 2012. Ou seja, a educação superior é vista como preponderante para o desenvolvimento da nação, bandeira que também defendo”, conclui o professor, que coordena o Programa de Mestrado Profissional em Administração do Centro Universitário Una (MG).

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