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Rodrigo Vianna: o que fez Dilma chorar!

"Ninguém pode me impedir de usar a palavra GOLPE!"
publicado 21/05/2016
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coxinhas

O Conversa Afiada reproduz artigo de Rodrigo Vianna, extraído do Escrevinhador:


Dilma aos blogueiros: “é minha absoluta obrigação resistir; vou lutar contra isso até o fim, e ganhar”

Passava das cinco da tarde, e este blogueiro que acabara de se instalar no hotel, no centro de Belo Horizonte, ouve ao longe a voz que berra no megafone: “tchau, querida”, “fora, petralhas”. O tom é de cafajestice e deboche.

Caminho, então, até a janela; e lá embaixo observo o ridículo grupo vestido de amarelo, postado em frente ao hotel. Dos carros que passam, surgem gritos contrários: “golpistas, amigos do Cunha”.

Aos poucos, uma pequena multidão de vermelho se planta do outro lado da avenida Afonso Pena.

Inicia-se a troca de ofensas.

Os dois grupos estavam ali no aguardo da primeira aparição pública de Dilma Rousseff, depois do afastamento dela pelo Senado.

Às 19horas, o grupo de amarelo se retira, até porque ficara em minoria esmagadora quando uma passeata de apoiadores da Democracia chega ao local. Os coxinhas (agora chamados de “trouxinhas”, pelo fato de terem sido usados pelo PMDB de Cunha/Temer) não empolgam. O outro grupo, em compensação, não para de crescer.

Quando Dilma chega ao hotel, para participar do Quinto Encontro de Blogueir@s e Ativistas Digitais, a multidão já tomava conta das duas faixas da avenida. Entre 10 mil e 20 mil pessoas se aglomeravam – numa demonstração impressionante de persistência, depois do início arrasador do governo golpista de Michel Temer.

Dilma desce do carro por volta de 20h15, e decide caminhar em direção ao povo. A equipe de apoio dela agora é pequena: desde que foi afastada, tem apenas 4 seguranças à disposição. Quem garante a segurança e a estrutura, ali no meio da rua, é o movimento social.

A presidenta se emociona com a multidão: chora, mas logo retoma o controle, para discursar rapidamente, agradecendo o apoio.

Lá dentro, mais de 500 pessoas já haviam iniciado o encontro de blogueiros. Energizada pela rua, Dilma parece leve quando entra no hotel e pisa no palco do anfiteatro lotado. Sorri muito, carrega crianças no colo e é recebida numa atmosfera de emoção.

Na platéia, as mulheres são maioria – como tem ocorrido em tantos atos de resistência contra o golpe parlamentar. Há militantes negras, portadoras de deficiência, além de homens e mulheres com bandeiras multicoloridas do movimento LGBT. A meu lado, uma jovem ergue bem alto o cartaz: “somos todas Vana” (alusão ao sobrenome menos usado por Dilma).

Antes da presidenta, fala Renata Mielli, dirigente do FNDC (Forum Nacional de Democratização da Mídia). Ela destaca os interesses internacionais envolvidos no golpe, que chega para sabotar a integração latino-americana e os BRICs. E afirma: “Talvez esse golpe seja ainda mais terrível que o de 64, porque se desenvolve sob a máscara da legalidade. Voltamos ao governo dos homens ricos, de terno preto”.    

O ministro Patrus Ananias (PT), ex-prefeito de BH, lembra a mobilização dos mineiros contra o golpe: “Quando Minas se levanta, o Brasil se levanta. Começamos hoje a jornada para levar Dilma de volta à presidência”.

O microfone então passa para Dilma. A presidenta parece liberta daqueles discursos cheios de números e explicações burocráticas. Ela fala de improviso, mas logo para quando observa a poucos metros uma mulher chorando, na frente do palco. E diz: “é isso mesmo, bobeou a gente chora; eu mesmo acabo de chorar vendo a multidão ali na rua”.

Dilma fala com emoção, firmeza, e um surpreendente bom humor. Mas não foge das questões duras. Volta a chamar o golpe pelo nome: “o governo provisório é produto de um golpe. É provisório porque é ilegítimo. Não é produto do desejo popular”. E crava mais uma vez: “eles montaram um ministério de velhos, ricos e brancos. Sem negros, e sem mulheres”. A platéia se encanta com essa Dilma mais política e menos tecnocrática.

A fala leva mais de quarenta minutos. Na saída, Dilma não dá entrevista para a imprensa convencional – sócia do golpe. Mas vai para uma sala ao lado do anfiteatro, e conversa mais meia hora com um grupo de blogueiros. Este escrevinhador estava lá.

Ela volta a apontar o dedo de Eduardo Cunha como coordenador do governo golpista: “esse golpe tem endereço, telefone, impressão digital, e foto 3×4”. Ou seja: é um golpe que produziu um “governo provisório” (Dilma repetiu pelo menos 5 vezes essa expressão) completamente rendido a Cunha. “Essa aliança é uma aliança de direita. E não se iludam: quem dá as cartas na liderança do governo, e em vários postos, pra não dizer até mesmo no núcleo duro do governo, é ele [Cunha]”.

Dilma reafirma que tem fé numa reviravolta no Senado. “É minha absoluta obrigação resistir. Vou lutar contra isso até o fim. E ganhar. Só lutar, não. Ganhar!”

Perguntada por um blogueiro sobre a intimação do STF, para que explique por que tem usado a palavra golpe, Dilma foi irônica: “gostei muito, vou fazer um grande esclarecimento (risos); além disso, ninguém pode impedir ninguém de falar em golpe”.