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Mino: Lula e Erdogan. Quem é lider?

Moro corre sério risco: vai mesmo prender o Lula?
publicado 25/07/2016
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Editorial da Carta Capital:

Quem é líder?

As pesquisas soletram que Lula é ainda e sempre o candidato mais forte para as eleições presidenciais. Quem fica em segundo lugar é Marina Silva, a distância maior em relação às pesquisas precedentes. Há largo tempo o ex-metalúrgico é o único, autêntico líder popular brasileiro, e esta primazia absoluta é do conhecimento até do mundo mineral.

O golpe que por ora afasta Dilma Rousseff figura apenas no começo de uma pauta mais complexa e extensa, muito além da confirmação do impeachment. É também do conhecimento do mundo mineral que a mira da casa-grande está alçada na direção de Lula e do PT, a repetir a obsessão de Catão, o Censor, em relação a Cartago, delenda esse, destruída há de ser, repetia incansavelmente.

Como destruir o único, autêntico líder popular? A aposta dos censores para excluí-lo pela força do próximo pleito presidencial manda colocar todas as fichas na prisão do ex-presidente por obra e graça da determinação do juiz Sergio Moro. Tal seria o último ato da Lava Jato. Trata-se, entretanto, de uma operação arriscada, de diversos pontos de vista. Muito arriscada.

Antes de mais nada, vale a seguinte pergunta: quantos haverão de ser presos antes de Lula, para, ao cabo, alcançá-lo? Quem poderá ser poupado? Neste exato instante, a delação premiada de Marcelo Odebrecht alimenta os pesadelos de muitos senhores do poder. Inúmeros. Como conciliar os interesses dos golpistas com a sanha dos magistrados curitibanos, o nihil obstat do Ministério Público Federal e o clangoroso silêncio do Supremo Tribunal? Apresenta-se, isto sim, um conflito de árdua composição, se não impossível. Beco sem saída.

Há outro aspecto, importantíssimo: convém prender o único, autêntico líder popular brasileiro, sem fazer dele um mártir, como o próprio Lula já disse com um sorriso? Uma ação deste porte precipitaria as incógnitas poderosas de uma situação nunca dantes navegada, e de desfecho imprevisível. Fosse eu um potentado dos bairros nobres me perguntaria se ser preso não seria do maior agrado do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva.

Houve outro líder popular no Brasil, Getúlio Vargas. Manchou seu currículo com a ditadura do Estado Novo, mas foi grande estadista. Criou Volta Redonda para abrir o caminho da industrialização, criou a Petrobras para que o petróleo fosse nosso, estabeleceu o salário mínimo e impôs a CLT a bem dos trabalhadores, indispensáveis ao progresso para desconforto da casa-grande. Pagou caro por seus méritos, mas o tempo era outro, até que um dia chegaram os tanques.

A verdadeira liderança é coisa rara. Politólogos europeus, sobretudo italianos, enxergam nela a alternativa aos partidos em franca, inexorável decadência. Falam em “democracia do líder”. A expressão soa bem. No entanto, cadê os líderes? Em termos mundiais, o único líder é Francisco, papa e estadista, ao reformar a Igreja de Roma e a condenar o neoliberismo que semeia a desigualdade.

A recente tentativa de golpe na Turquia exibe claramente a liderança do presidente Erdogan (leia nesta edição a reportagem de José Antonio Lima). Líder de um povo que sai às ruas para enfrentar os tanques e derrotar o exército rebelde. Há quem diga que a popularidade de Erdogan hoje supera até aquela de Kemal Atatürk, modernizador da Turquia, grande estadista. Nem todos os líderes o são.

O fracasso do golpe multiplica o poder do presidente, que já exorbita das funções previstas pelo regime parlamentarista e acumula de fato também as de primeiro-ministro. Porta-se como dono do país, e o atual triunfo o instiga à repressão feroz, não somente contra os inimigos, mas também contra os adversários políticos. Não é o caso de catalogar a Turquia como democracia do líder.

Getúlio redimiu-se das prepotências da sua ditadura como presidente eleito. Já Lula foi o melhor governante, de longe o melhor, da chamada redemocratização. Deu passos importantes no campo da política social, em proveito do próprio capitalismo tão mal interpretado pelos senhores da casa-grande, e praticou uma política internacional independente, como nunca ocorrera na história do País, súcubo da Grã-Bretanha antes e de Tio Sam depois. Afirmou seus dotes de negociador em busca de uma insólita conciliação, diferente da usual, a das elites. Com ele na Presidência, a democracia jamais foi ameaçada.
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