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Santayana e a eleição na Venezuela. O legado de Chávez

A vitória de Capriles significa o deslocamento do Brasil e a volta dos Estados Unidos.
publicado 12/04/2013
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O Conversa Afiada reproduz artigo de Mauro Santayana, do JB online:


Decisão em Caracas



Mauro Santayana

Interessa-nos, sim, e muito, o resultado das eleições venezuelanas do próximo domingo. Sendo assim, convêm-nos examinar o quadro sem as lunetas da paixão ideológica. Se o opositor Capriles, por essa ou aquela razão, desmentir o favoritismo de Maduro, e ganhar o pleito, não terá como inverter o curso histórico do país.

Ainda que, nesse caso, seja possível uma guinada à direita, ela não ocorreria logo. A menos que se desse depois de sangrenta guerra civil. A Hitória, antiga e contemporânea, nos ensina que, havendo imperialismo, guerras civis surgem por todo lado. Uma guerra civil, no entanto, pode levar anos e desorganizar a economia. E pode, até mesmo, favorecer o lado aparentemente mais fraco.

O mais importante legado de Chávez não está em sua política distributiva, mas, sim, no que ela representou na alma do povo venezuelano. Os venezuelanos pobres são a imensa maioria do povo. Eles assumiram a consciência da dignidade como um bem coletivo, e não parecem dispostos a renunciar a esse sentimento.

O militar, sendo mestiço, soube falar com a emoção ameríndia. Ele disse aos indígenas, e aos mestiços como ele, que a Venezuela é um bem comum de seu povo, e não colônia estrangeira. Seu discurso sempre foi autêntico.

Seu opositor, Henrique Capriles Radonski, continua a ser visto como multimilionário,  venezuelano de primeira geração, de origem européia – distante da visão universal do povo.

Em  tática eleitoral conhecida, tenta agora linguagem menos agressiva, na tentativa de angariar votos entre aqueles chavistas que preferiam outro candidato em lugar de Maduro.

O sucessor de Chávez tem cometido erros primários, ao tentar, sem o mesmo carisma, a sintaxe emotiva do ex-presidente. Isso  pode inspirar a cunha oposicionista e beneficia-la, mas de forma marginal.

Ao Brasil, como país, não interessa mudar a sua postura diante de Caracas, mesmo no caso em que a oposição vença. As nossas relações comerciais devem ser mantidas. Temos  imenso saldo na balança comercial e os nossos empresários que, em natural pragmatismo, não participavam do coro dos meios de comunicação contra o chefe de Estado da Venezuela, não querem perder os bons negócios que se iniciaram ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, e se ampliaram na administração de Lula e Dilma.

Se não nos interessa mudar a postura nas relações com a Venezuela, no caso  de eventual vitória da direita, com Capriles, é natural que essa hipótese nos preocupe, tendo em vista os nossos interesses continentais.

Derrotada a esquerda, o governo de Caracas se alinhará aos Estados Unidos, e buscará, ali, as importações de que necessita, deslocando-nos do importante mercado.

Além disso, as organizações  regionais de que participamos, como o Mercosul e a Unasul, serão erodidas, pela ação direta de Washington.

Capriles, o candidato oposicionista, como se sabe, não é judeu ortodoxo. Converteu-se ao catolicismo e foi  ativo militante do ramo venezuelano da nossa famigerada TFP, em seus anos mais jovens. Há notícias de que pertence também à Opus dei.

Todas essas razões convocam a nossa atenção para o pleito de domingo.