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Tijolaço mostra: documentos revelam ódio dos EUA contra Brizola

Confira texto do Tijolaço, de Brizola Neto.
publicado 21/06/2010
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Do Tijolaço, de Brizola Neto:

segunda-feira, 21 junho, 2010 às 7:46

Para os que são jovens e, como eu, não viveram os anos de ditadura, gostaria de mostrar alguns documentos recentemente desclassificados do Departamento de Estado norte-americano que  revelam claramente como os Estados Unidos interferiram na vida brasileira e apoiaram expressamente a instalação de uma ditadura aqui.

E hoje, no sexto aniversário da morte de Leonel Brizola, estes documentos mostram como, por sua atuação política, nos anos 60, ele incomodava tremendamente os Estados Unidos, que o viam como uma ameaça permanente aos seus interesses.

É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem. Pouco tempo depois do movimento da Legalidade, quando Brizola liderou o movimento que impediu a implantação de uma ditadura militar, quando da renúncia de Jânio Quadros, numa carta de 7 de novembro de 1961 para o secretário de Estado para assuntos inter-americanos Robert Woodward, o vice-secretário de Assuntos de Segurança Internacional, William Bundy, manifesta a preocupação com a situação política do Brasil desde a renúncia de Jânio Quadros, e alerta o departamento para a influência política de Brizola, embora a analisando de forma fantasiosa.

“A emergência do governador Brizola, do Rio Grande do Sul, como um líder nacional em potencial, os passos tomados por ele em formar núcleos paramilitares com assistência comunista e suas atividades em conexão com líderes comunistas em outras regiões do país são preocupantes”

Os EUA, que viam um comunista em cada esquina, classificavam como comunismo as lutas nacionais e reforçavam um discurso histérico e reacionário que resultaria anos depois no golpe militar e no maior período de trevas que o país já viveu.

Em outro documento, de 19 de fevereiro de 1962, que trata de uma conversa do secretário de Estado com o embaixador do Brasil nos EUA, Roberto Campos, o secretário menciona o “problema” criado pela ação do governador Brizola com a “expropriação de propriedades” da ITT no Rio Grande do Sul.

A ITT, que controlava os telefones no Rio Grande e em outras partes do Brasil, impunha um “caladão” aos gaúchos e em seus contatos com o resto do país, porque tinha deixado de investir um tostão, com a proximidade do fim do prazo de sua concessão. Não foi, como aliás aconteceu com a Bond and Share, que controlava a energia elétrica, desapropriada por ser americana, foi desapropriada por ser um desastre na prestação dos serviços concedidos que detinha.

Roberto Campos, o americanófilo Bob Fields,  concorda que a expropriação é embaraçosa para o governo brasileiro, mas ressalta a autonomia dos países nestas questões. O embaixador brasileiro considera que foi prematuro o Departamento de Estado ter se manifestado publicamente sobre o caso antes de o governo brasileiro ter tomado qualquer ação.

O embaixador comentou que Brizola tinha “sacado a arma” com a expropriação e que a ocasião tinha sido infeliz. Como sempre, o secretário invocava os negócios dizendo que esperava manter a moral dos investidores americanos depois do que acontecera.

Em 22 de janeiro de 1964 , notas de um encontro entre o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, e o secretário assistente de Estado para Assuntos Inter-americanos, Thomas C.Mann, apresentam o presidente João Goulart como “infantil e errático”. Numa demonstração de prepotência e de como os EUA tratam o resto do mundo, principalmente o que considerava ser o seu quintal, os comentário se referem a Goulart, então presidente da República, de forma pejorativa. “Ele não se vê como um comunista. Muito tolerante com os comunistas porque são úteis a ele. Mais um seguidor de Vargas e Peron. Particularmente demagogo.”

Os diplomatas americanos alegavam todo o tempo a possibilidade de um golpe de Jango, “seguido de uma eventual tomada de poder pelos comunistas”, e também descreviam Brizola de forma primária. “Brizola é cunhado de Goulart, tem uma estação de rádio e é ex-governador do Rio Grande do Sul. Atualmente é deputado pelo Rio, onde teve uma grande votação. Mais demagogo que um tipo intlectual. Tem dito que gostaria de ser o Fidel Castro do Brasil. (Paulo) Schilling, seu conselheiro principal, é membro do Partido Comunista.

Em 19 de março de 1964, Gordon Chase, do Conselho Nacional de Segurança, trata do que ouviu de Lincoln Gordon sobre o Brasil. O embaixador apresenta a situação política como “terrível” e usa palavras desqualificantes para um diplomata. “Goulart é um incompetente, delinquente juvenil, que representa uma minoria de brasileiros. No curto prazo, ele busca meramente sobreviver. No longo prazo, ele provavelmente gostaria de um revolução do tipo peronista, com muita corrupção e apoio das classes trabalhadoras.”

Acrescenta o memorando: “Uma tomada de poder comunista é concebível. Brizola e Goulart são rivais que frequentemente trabalham juntos. É difícil dizer o quanto. Mas há fatores mitigadores. Embora um agitador, Brizola não é muito esperto e nem um bom líder. Os dois possíveis sucessores de Jango são considerados bons. Kubitschek é inconstante, mas no geral é OK. Larcerda seria excelente.”

No dia 30 de março de 1964, véspera do golpe, um telegrama do Departmento de Estado para a embaixada dos EUA no Brasil afirma que a política norte-americana é a de livrar “de todas as maneiras possíveis” o governo constituicional da “ameaça contínua de ditadura de esquerda construída pela manipulação de Goulart/Brizola”.

O caminho para o golpe estava preparado e os EUA reforçavam a necessidade de legitimar as ações “daqueles que se opõem ao comunismo e outras influências extremistas”.

“É altamente desejável, portanto, se uma ação militar tomar curso, que a mesma seja precedida ou acompanhada por uma clara demonstração de ações inconstitucionais por parte de Goulart ou seus parceiros…”

A participação dos EUA no golpe, durante muitos anos negada, fica explícita no apoio oferecido oficialmente, incluindo uma intervenção aérea até hoje pouco conhecida.

“No que se refere à ajuda militar, questões logísticas são muto importantes. Navios carregados com armas e munições não conseguiriam chegar ao sul do Brasil antes de 10 dias. Apoio aéreo poderá ser providenciado prontamente caso uma pista intermediária em Recife, ou alguma outra pista no Nordeste, capaz de lidar com nossas naves de transporte de grande porte, seja segura e disponibilizada.”

Os EUA queriam manter seu apoio sem envolvimento direto de tropas, como costumavam fazer em outras intervenções na América Latina, mas não descartavam totalmente envolver-se diretamente.

“Obviamente, em um país com mais de 75 milhões de pessoas, maior que os EUA continental, essa não é uma tarefa para um punhado de fuzileiros navais americanos. Uma grande determinação por parte dos autênticos líderes do Brasil e uma posição de legitimidade são da maior importância. Não ficaremos, porém, paralisados por fatores teóricos se as opções forem claramente entre as forças genuinamente democráticas do Brasil e uma ditadura dominada pelo comunismo.”

Os EUA estavam totalmente a par e envolvidos com o golpe em curso a ponto de alertar para as ações que começariam no dia seguinte para a deposição de Jango.

“Relatórios fragmentados que chegam hoje à noite sugerem que forças anti-Goulart podem estar ganhando terreno. Nosso maior problema é determinar se isso nos apresenta como uma oprtunidade que pode não se repetir. Nesse caso, gostaríamos de tomar uma grande decisão de se e como nós podemos dar mais ímpeto às forças já em movimento…”

O que veio depois nós já sabemos. O exílio forçado de Jango e de meu avô e o mergulho do país nas trevas. O conhecimento destes documentos secretos americanos aumenta o orgulho e a responsabilidade por carregar este sobrenome.

No próximo post, registro esta homenagem num vídeo que emociona.



(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (***) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.