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Programa Golpista é pior do que governo FHC

Requião: Ponte para o Futuro "é o fim de todas as conquistas sociais"
publicado 08/04/2016
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O Conversa Afiada reproduz entrevista do senador Roberto Requião (PMDB-PR) ao Brasil de Fato:

Requião diz que Ponte para o Futuro não é documento oficial do PMDB

O senador define o plano como "ideias caducas que nunca deram certo em nenhum lugar"

O senador Roberto Requião (PMDB-PR), que está no mesmo partido há três décadas, é um crítico do Ponte para o Futuro, conjunto de propostas elaborado pelo partido como resposta à crise brasileira. O argumento do parlamentar é que o documento ataca a trajetória histórica da legenda e não pode ser considerado a posição oficial do PMDB.

“O documento não foi aprovado pela Fundação Ulysses Guimarães. Ele foi apresentado, mas foi alvo de tanta polêmica que nem foi votado. Tem gente dizendo que seria um documento oficial do PMDB, mas não é verdade. O PMDB tem uma história a zelar. Ela é muito diferente dessa Ponte para o Futuro”, disse Requião em entrevista ao Brasil de Fato. “São ideias caducas que nunca deram certo em nenhum lugar”.

Lançado em outubro de 2015, o texto deve ter uma continuação divulgada em breve. Conforme reportagem do Estado de São Paulo, a nova versão deve incluir um corte no subsídio ao setor industrial, o fim do uso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para financiamento do Minha Casa, Minha Vida, a ideia de ampliar a privatização do ensino médio e limitar o número de bolsas do Fies.

O conjunto de propostas vem sendo discutido como programa do PMDB caso o impeachment de Dilma Roussef (PT) se consolide. Além das ideias apresentadas, a legenda já articula uma possível composição ministerial. Entre os nomes aventados, consta o de Armínio Fraga – presidente do Banco Central de Fernando Henrique Cardoso (FHC) - para a Fazenda. Boa parte das ideias da Ponte consta em artigo publicado por Fraga em 2015.

Essa proximidade do plano com o pensamento do PSDB é parte das críticas do senador: “A origem das ideias contidas nesse documento é o neoliberalismo selvagem, o Consenso de Washington, Wall Street, a Febraban, a nova Fiesp do Skaf e, em especial, todos os prósperos membros da velha equipe econômica de FHC”. As comparações com os governos de FHC vão mais longe. “É ainda mais radical do que fez FHC em seus terríveis mandatos. Seria o maior desastre social que já vivenciamos”, aposta Requião.

Para ele, é necessário defender uma política econômica alternativa. “Precisamos retomar uma política econômica desenvolvimentista, aumentar os investimentos públicos, reestruturar a dívida pública, controlar o movimento de capitais, investir em desenvolvimento tecnológico, reestruturar o sistema educacional, retomar o controle sobre os recursos petrolíferos, apoiar a reindustrialização, apoiar e democratizar os investimento em construção civil, fazer as reformas urbana agrária e reestruturar a economia para os recursos naturais de forma mais responsável”.

A reportagem procurou a Fundação Ulysses Guimarães para responder às críticas ao documento Ponte para o Futuro, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.

Ponte para o passado?

A análise de Requião encontra eco no Parlamento e no ambiente acadêmico. Para Lindbergh Farias (PT-RJ), colega de Requião no Senado, “essas propostas acabam com o legado de Getúlio Vargas, Ulysses Guimarães e Lula". "Os efeitos desse programa são destruição do Estado nacional, realinhamento geopolítico aos Estados Unidos, retrocesso nos direitos sociais e retirada dos direitos dos trabalhadores”.

A apresentação de tais bandeiras, segundo Farias, está relacionada com o embarque de setores do PMDB na defesa do impeachment. “É puro oportunismo. Antes da crise, o PMDB assumia como seus os avanços para o país a partir do governo Lula. Agora, assume o programa do PSDB. O programa Ponte para o Futuro nunca elegeria um presidente no nosso país. Esse programa é mais radical do que os documentos dos tucanos e só é viável politicamente via golpe”.

Gilberto Bercovici, professor de direito econômico da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o programa reflete uma nova estratégia do partido. “São setores do PMDB querendo ganhar um espaço junto ao sistema financeiro, junto aos setores internacionais. É um programa com a cara do PSDB”, afima.  

“A agenda do neoliberalismo está sendo retomada na América do Sul e no mundo. É por isso que estas propostas que são velhas estão reaparecendo como se fossem novas”, pontua João Sicsú, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para o economista, se implementada, as bandeiras em torno de um “Estado mínimo” podem levar o país a uma situação catastrófica. “Nós já conhecemos todas essas propostas de cortes em direitos sociais, em direitos trabalhistas, de redução do valor real do salário mínimo. Essas ideias nos levam para uma situação semelhante à da Grécia: elevação do desemprego e da miséria, dificuldades de reação por parte dos trabalhadores. Quando se promovem cortes de gastos sociais, o que se está fazendo é aumentar o espaço para o superávit primário - ou seja, aumentando a transferência de renda para banqueiros e rentistas. É a abertura de um processo de concentração de renda muito forte”.

A consequência pode ser mais atraso, aponta Bercovici. “A gente está brigando pela democracia e também para saber se o país, no século 21, vai ser uma fazenda e uma mina gigantes. [A proposta do PMDB] é uma ponte para o passado colonial”.

*Edição: Camila Rodrigues da Silva

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