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Wanderley: SP tem mais Bolsa Família e Dilma perdeu

Imposto sobre grandes fortunas é mais importante que a reforma política.
publicado 28/10/2014
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Leia a seguir trechos de entrevista de Wanderley Guilherme dos Santos ao PiG cheiroso (no ABC do C Af) sobre o resultado da eleição “apertada”- leia também a respeito da vitória de Hollande sobre Sarkozy.

Observe que, como o Oráculo de Delfos, o professor Wanderley tem dúvidas sobre o conteúdo e a forma da “reforma política”.


Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo


Entrevista com o filósofo e doutor em ciência política pela Universidade Stanford, Wanderley Guilherme dos Santos, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele declarou seu voto em Dilma.



Valor: Dilma assume um novo governo em meio ao tiroteio da Petrobras, quais os efeitos disso sobre ela, sobre Lula e sobre a bancada do PT no Congresso?

Wanderley Guilherme dos Santos: Acredito que tal como aconteceu em episódios anteriores as investigações prosseguirão autonomamente como manda a Constituição. E ponto.


(...)



Valor: Serão 28 legendas no Congresso, como ter governabilidade?

Guilherme dos Santos: Acredito que novamente haverá uma composição de uma maioria razoavelmente confiável no Congresso, como seria o caso em qualquer um dos vencedores. É muito difícil a um partido só em um sistema multipartidário obter uma maioria absoluta no Congresso. Nunca houve maioria do presidente eleito no Congresso que fosse do seu partido, exceto no período da ditadura. É inevitável, seja qual for o vencedor, que tenha que negociar e formar base de apoio no Parlamento.



Valor: O segundo turno foi bastante disputado, com o acirramento nas ruas. Isso não se refletirá no Congresso?

Guilherme dos Santos: Tenho a impressão que esse acirramento não se reflete no Parlamento, até porque as decisões já foram tomadas e os resultados já são conhecidos.


(...)



Valor: Para o senhor 2010 seria a última eleição em que os programas de política social seriam suficientes para definir uma eleição?

Guilherme dos Santos: No Estado em que o candidato Aécio teve uma votação "nordestina", [obteve 64,31% dos votos contra 35,69% de Dilma], que foi SP, é o Estado com o maior número de beneficiários do Bolsa Família. É curioso isso. Essas análises de um país dividido partidariamente por regiões ou em funções de políticas sociais não estão valendo mais. Políticas sociais, embora sejam relevantes, se deixarem de existir, o povo cobra, mas não definem mais o voto. Elas podem definir na ausência, na negação, que é o que me parece que aconteceu. Os beneficiários por políticas sociais não definiram seu voto só por isso - eles querem mais. Um pequena maioria - já que a disputa foi acirrada - acreditou que Dilma é uma intérprete melhor para essas mudanças que o povo quer.


(...)



Valor: Como retomar a queda da desigualdade?

Guilherme dos Santos: Um dos elementos cruciais para a redução da desigualdade não são nem as políticas como o Bolsa Família, Luz para Todos, mas sim a política do salário mínimo. Ela tem sido um componente mais importante que as outras políticas. Esse é um assunto delicado. Nesse ponto, Aécio se colocou frontalmente contra a forma pela qual o salário mínimo vem sendo definido.



Valor: Que reformas seriam mais relevantes no segundo governo Dilma?

Guilherme dos Santos: Tenho uma implicância muito grande com a reforma política porque não sei o que eles propõem que seja reformado. Sou favorável a mais de 90% da Constituição atual. O que eles querem reformar? Acho que essa é a questão. Uma Constituinte exclusiva, como faz parte do programa da presidenta Dilma, desde logo me oponho a este programa. Em princípio, como tese geral, não vejo que [a reforma política] seja importante para o país. Importante para o país, aí sim, é o imposto sobre grandes fortunas. Ele é absolutamente indispensável. É necessário que as grandes fortunas contribuam de forma mais generosa para o desenvolvimento social do país. Eles têm que assumir uma contribuição maior, porque afinal é o país que os enriquece. Segundo lugar, acredito que o fator previdenciário não pode mais deixar de ser reconsiderado. O sistema tributário brasileiro em geral tem que ser revisto. Em particular, o fator previdenciário é uma exigência de sacrifício excessiva dos assalariados para a construção nacional. (Colaborou Camilla Veras Motta, de São Paulo)


(...)


Leia a íntegra da entrevista em: http://www.valor.com.br/eleicoes2014/3749916/acirramento-nao-se-reflete-no-parlamento#ixzz3HOZp14ZQ

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