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A classe média vai decidir as eleições presidenciais

publicado 15/10/2014
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O Conversa Afiada reproduz texto do site de João Paulo Cunha:

A classe média vai decidir as eleições presidenciais

 

 

O cenário inicial de empate técnico entre os candidatos projeta o segundo turno mais acirrado da história das eleições presidenciais no Brasil, desde 1989, quando o brasileiro retomou o direito de escolher o chefe do poder executivo nacional. Tanto na pesquisa do Ibope, realizada entre os dias 07 e 08, como na do Datafolha, realizada de 08 a 09 de outubro, Aécio tem 46% e Dilma 44% dos votos totais. Considerando-se apenas os votos válidos o tucano tem 51%, contra 49% da petista.

 

Levando em conta a divisão regional, a distribuição das intenções de voto segue, nesse começo de segundo turno, a votação do primeiro turno. Dilma lidera no Nordeste e Norte, com praticamente o dobro de votos sobre Aécio. No Nordeste, pelo Datafolha, Dilma tem 60% contra 31% e pelo Ibope 59% contra 32%. No Norte, pelo Datafolha, ela tem 56 contra 37%. O Ibope não apresenta a região Norte isoladamente, mas somada com o Centro–Oeste e, nesta soma, aponta 46% para Aécio e 43% para Dilma. Já o Datafolha aponta, no Centro-Oeste, Aécio na frente com 55% contra 33% de Dilma.

 

Nas duas pesquisas Aécio lidera também no Sudeste e no Sul. A questão que deve ser explicada aqui está na grande diferença, bem superior à margem de erro, entre os números dos dois institutos para essas regiões. No Sudeste, pelo Datafolha, Aécio tem 55% contra 34% de Dilma, uma vantagem de 21%. Já pelo Ibope essa vantagem é de apenas 10%, com Aécio marcando 48% contra 38% de Dilma. No Sul a discrepância entre os números das duas pesquisas é ainda mais gritante. Pelo Ibope Aécio lidera com 61% contra 33% de Dilma, uma vantagem de 28%. Já pelo Datafolha esta vantagem é de apenas 09 pontos, com Aécio marcando no Sul  50% contra 41% de Dilma.

 

Como explicar essa enorme diferença de 19% entre as duas pesquisas, na vantagem de Aécio no Sul, considerando-se a margem de erro de apenas 2% ?  Se os resultados do primeiro turno, para presidente e em vários estados, já levaram a sérios questionamentos sobre o rigor científico das pesquisas, uma tamanha discrepância entre os números, para as regiões Sudeste e Sul, nos primeiros levantamentos do segundo turno, deve preocupar a todos que lutam contra manipulações eleitoreiras.

 

Quanto ao espólio eleitoral de Marina, os números das duas pesquisas são bem similares. Pelo Datafolha 66% dos eleitores de Marina, estariam agora dando seu voto a Aécio e 18% a Dilma. 10% se dizem indecisos e 6% dos que votaram na candidata do PSB agora dizem preferir o voto nulo ou em branco. Pelo Ibope, dos eleitores de Marina também 18% iriam para Dilma e Aécio ficaria com 64%.  Essa intenção de voto, dos eleitores de Marina no primeiro turno, ainda poderá sofrer oscilações, a depender do desenvolvimento das campanhas petista e tucana.

 

O apoio declarado de Marina a Aécio, não deve mudar muito estes números, pois o tucano já estaria recebendo o voto dos eleitores de Marina, praticamente no limite de suas possibilidades. Claro, vai depender também do grau de envolvimento que Marina vier a ter na campanha do PSDB. Seu apoio ao tucano faz ruir seu discurso de nova política, mostrando que, na pratica, exerce a velha política de troca de interesses.

 

Neste começo de segundo turno é na variável renda que podemos observar uma clara divisão eleitoral dos brasileiros. Enquanto Dilma lidera com folga entre os mais pobres, Aécio lidera também com folga entre os mais ricos.  O que aponta para uma cristalização dos votos nos extremos da classificação socioeconômica brasileira.  A intenção de voto no tucano cresce à medida que aumenta a renda dos eleitores. Com Dilma ocorre exatamente o inverso, com sua intenção de voto aumentando à medida que cai a renda do eleitor pesquisado.

 

Pelo Ibope, Aécio tem 33% entre os que ganham até um salário mínimo, 36% entre os que recebem de um a dois mínimos, pula para 51% entre os que ganham de dois a cinco salários mínimos e 63% entre os que ganham acima disso. Já Dilma, na progressão inversa, tem 58% entre os que recebem até um mínimo, 52% entre os que ganham de um a dois mínimos, 39% entre os que ganham de dois a cinco mínimos e apenas 29% entre os que ganham acima de cinco salários mínimos.

 

O Datafolha, para a variável renda, apresenta a intenção de votos dos eleitores dividida por classes sociais. Na classe alta Aécio lidera com folga de 74% contra 26% de Dilma. Na classe média alta o tucano tem 67% contra 33% de Dilma. Na classe média intermediária, onde está a disputa mais acirrada, Dilma lidera com 52% contra 48% de Aécio. Na classe média baixa, Dilma tem 53% contra 47% e, no que o Datafolha chama de excluídos, que correspondem na prática à classe baixa, a petista lidera com folga de 64% contra 36% de Aécio.

 

É esta variável socioeconômica que melhor explica a divisão do voto dos brasileiros no primeiro turno e as intenções de voto no começo do segundo turno, com Aécio à frente no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul e Dilma liderando no Nordeste e no Norte. Segundo o Datafolha, o Centro-Oeste, quantitativamente, tem mais que o dobro de eleitores nas classes alta ou média alta do que o Nordeste. No Sudeste e no Sul essa proporção sobe para quase o triplo. No Nordeste, metade da população é composta por integrantes da classe baixa ou média baixa.

 

O peso que o Datafolha deu na sua pesquisa para cada classe econômica foi: Para a classe alta 7%, para a classe média alta 24%, para a classe média intermediária 31%, para a classe média baixa 13% e para a classe baixa 25%.  Assim, somando a intenção de votos dos 31% dos eleitores das classes alta e média alta, Aécio recolhe, neste grupo dos mais ricos, 21 pontos de seu total, enquanto Dilma apenas 10 pontos. Já entre os 38% que representam a classe baixa e média baixa, Dilma consegue 23 pontos de seus votos válidos e Aécio recolhe aqui apenas 15 pontos de seu total.

 

Já nos 31% dos eleitores que representam a classe média intermediária, extrato social que mais cresceu nos doze anos de governos petistas, a contribuição hoje de votos para os dois candidatos é praticamente a mesma. Dilma recebe deste grupo 16 pontos para o seu total geral e Aécio recolhe deste setor 15 pontos para o seu total. Assim, nesse momento, a classe média intermediária ao se dividir, quase igualmente, entre os dois candidatos a presidente, acaba equilibrando a disputa entre o PT e o PSDB.

 

Portanto, é a classe média intermediária o grupo social que deve decidir as eleições presidenciais, já que os extremos socioeconômicos estão mais consolidados, com os ricos a favor de Aécio e os pobres ao lado de Dilma. Não deixa de ser uma ironia para o PT ter que disputar voto a voto na classe social que mais cresceu e foi mais beneficiada pelos governos de Lula e Dilma. A vantagem reduzida de Dilma nesta classe média intermediária, onde lidera com 52% contra 48% de Aécio, ajuda a explicar porque hoje o tucano aparece nas pesquisas à frente da candidata do PT.

 

Se somarmos os 13% da classe média baixa (onde Dilma também lidera, mas com pouca vantagem, com 53% contra 47% de Aécio) aos 31% da classe média intermediária, temos 44% dos eleitores na faixa de renda da classe média, sem contar a considerada classe média alta.  É este agrupamento expressivo de eleitores das classes média baixa e intermediária, a chamada classe C, que vai decidir o destino das eleições presidenciais deste ano, optando por manter o rumo atual ou retornar ao passado.

 

O melhor caminho para o eleitor da classe C decidir o seu voto é considerar, a partir de resultados concretos, qual partido atuou no governo a seu favor. Se assim proceder não vai ter dúvidas que nos governos de Lula e Dilma, a classe C viu seus direitos garantidos e sua renda e potencial de consumo aumentar consideravelmente. Bem ao contrário dos tempos bicudos de FHC e do PSDB, quando a classe C e todos os trabalhadores enfrentaram anos seguidos de arrocho salarial e desemprego galopante.

 

Neste contexto, para que o PT possa produzir uma virada eleitoral e fazer Dilma vitoriosa, deverá priorizar a busca dos votos desses eleitores da classe média brasileira, que representa sozinha 44% do total. Deverá fazer ver a essa classe C, que foi sob os governos petistas que este grupo se fortaleceu e ascendeu socialmente. Mais que isso, deverá apresentar as suas novas propostas para que esta classe social continue seu processo de melhoria na qualidade de vida.

 

Segundo o Datafolha a classe média intermediária que agora esta dividida entre Dilma e Aécio, votou mais em Marina no primeiro turno, que a média dos brasileiros. Assim, considerando a grande possibilidade de diálogo e de adesão deste grupo a Dilma, pelo muito que foi feito para eles no seu governo e nos de Lula, o PT deve buscar conquistar, prioritariamente, este eleitor de Marina que faz parte do setor intermediário da classe média brasileira.

 

Se a primeira semana do segundo turno não foi boa para Dilma com a divulgação de pesquisas onde aparece atrás do tucano, o vazamento leviano dos áudios dos depoimentos dos delatores na operação Lava Jato da Polícia Federal e o apoio de Marina a Aécio; por outro lado, os números detalhados das primeiras pesquisas indicam que uma virada petista é bem possível, desde que o partido acerte na estratégia e no discurso da campanha, priorizando a conquista do voto dos eleitores da classe C.

 

Nessas duas semanas que faltam para a eleição vão ocorrer ainda quatro debates entre os candidatos a presidente, na TV Bandeirantes (14.10), SBT (16.10), Record (19.10) e Globo (24.10), oportunidades destacadas para que Dilma enfrente e desmonte o discurso e as propostas de Aécio. Teremos também mais de dez programas de TV e Rádio, além dos comerciais ao longo da programação, que serão decisivos para definir o voto dos eleitores, especialmente aqueles que ainda estão indecisos.

 

Serão oportunidades para mostrar que Aécio tem uma carreira política ligada ao clientelismo político e ao conservadorismo econômico das elites brasileiras. Para comparar os governos federais de Lula e Dilma com o do PSDB de FHC, e mostrar as profundas diferenças a favor do povo sob a condução dos governos petistas, que são melhores que os tucanos em todas as áreas da administração federal. É a hora de chamar o brasileiro a razão, para que não troque o que é certo e melhor pelo duvidoso e pior.




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