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Erick, o medalhista de ouro da educação no Brasil

Jovem paraense recebeu sua terceira medalha na Olimpíada Brasileira de Matemática das mãos de Dilma Rousseff.
publicado 09/05/2014
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O paraense Erick Rodolfo Trindade, de 18 anos, era um dos 500 alunos premiados pela Presidenta Dilma Rousseff, na última quarta-feira (7), no Rio de Janeiro. Ele fez parte do grupo de 18 milhões de estudantes da rede pública, do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, espalhados em 47 mil escolas pelo país, que fizeram as provas da Olimpíada Brasileira de Matemática (Obmep), em 2013.

Desta vez, foi para receber a medalha de ouro, resultado do desempenho do jovem na competição. Em 2010, Erick havia levado a de bronze para casa. Em 2012, a de prata. A Olimpíada consiste em duas fases; na primeira participam todos os alunos inscritos, e na segunda 5% dos alunos de cada escola que tiveram o melhor desempenho na fase anterior.

Nascido em Ananindeua, cidade com cerca de 471 mil habitantes, segunda mais populosa do Estado, Erick realizou em 2014 um outro sonho, além do de conquistar a medalha: chegou à Universidade Federal do Pará (UFPA), onde cursa Matemática, matéria que sempre lhe agradou.

"Sempre gostei de matemática, mas até a 7ª série eu não era bom". A aprendizagem veio com a indignação. "Como pode a matéria que eu mais gosto e não sei?", se questionava.

A partir de então, passou a revisitar livros de séries anteriores para aprender. "Eu sempre levava uma questão que eu não sabia para resolver na sala de aula". Dedicou-se tanto que, no ano seguinte, na 8ª série, já sabia o que seria ensinado aos colegas de turma.

Para ir à premiação, Erick levou mais ou menos três horas de avião, que foi direto, sem escala, de Belém ao Rio. É o dobro do tempo que gasta nas viagens entre sua cidade natal e a capital do Estado, para comparecer às aulas na faculdade, em que desembolsa R$ 2,20, metade para ir e metade para voltar, de segunda a sexta-feira.

Aluno de escola pública, contou com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para ser o primeiro da família a entrar no ensino superior. "Neste ano, o ENEM foi o vestibular. Até o ano passado, era a primeira fase da prova". Ele lembra que a irmã já tentou ingressar na universidade, mas não conseguiu.

De família humilde, Erick não se esquece de muitos professores. "Eles me davam o material escolar porque eu não tinha dinheiro no ensino fundamental." O pai ele não conheceu e viu a mãe criar os sete filhos, sem uma renda fixa já que trabalhava na informalidade. "Minha mãe trabalhou como empregada doméstica. Chamavam para fazer comida, lavar roupas...", relata.

Além de muitas alegrias, 2014 reservou tristeza para o futuro matemático. Em março, mês que começaram as aulas, Erick perdeu a mãe. “Eu estava no Rio de Janeiro, onde passei dois meses estudando no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), quando recebi a notícia de que havia passado no vestibular. Liguei para ela e ela só me perguntava se eu estava feliz, porque ela estava. Quando voltei ao Pará, a situação dela já não era boa”, conta.

Dentre as três medalhas conquistadas não há uma que seja mais especial, porém, há a que o deixou mais feliz. “Cada uma tem a sua importância. A primeira (de bronze) me incentivou a ganhar outras. A segunda (de prata) me deixou mais feliz, pois eu não esperava. Já a terceira , eu não esperava levar a de ouro.”

Quanto ao futuro, Erick, que hoje mora com uma irmã e um irmão, fala em fazer doutorado em matemática para “ajudar a família”.

Ciência sem Fronteiras

O Erick e os demais medalhistas da Olimpíada terão bônus no Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal. A Presidenta Dilma Rousseff anunciou no evento que os alunos poderão concorrer a bolsas de estudo no exterior pelo programa.


Alisson Matos, editor do Conversa Afiada