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Ministros do Supremo, por favor, lembrem-se de Antígona

publicado 28/04/2010
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O Supremo Tribunal Federal decide hoje se quem tem razão é Fabio Comparato, que quer punir os torturadores do regime militar, ou se os torturadores.

 

A propósito, sugiro a leitura da notável coleção de ensaios reunidos por Edson Teles e Vladimir Safatle em “O que resta da ditadura”, coleção Estado de Sítio, da Boitempo Editorial.

Aos ministros do Supremo, nesse encontro com a História, recomendo especialmente o ensaio de Safatle, “Do uso da violência contra o estado ilegal”.

Aí, lê-se:

(Antígona é) “ ... uma das belas reflexões a respeito dos limites do poder. Ela é o verdadeiro núcleo do que podemos encontrar nesta tragédia que não cessa de nos assombrar.”

“ ... o Estado deixa de ter qualquer legitimidade quando mata pela segunda vez aqueles que foram mortos fisicamente, o que fica claro na imposição do interdito legal de todo e qualquer cidadão enterrar Polinices, de todo e qualquer cidadão reconhecê-lo como sujeito autor de seus crimes. Pois não enterrá-lo só pode significar não acolher sua memória através dos rituais fúnebres, anular os traços de sua existência, retirar o seu nome. Uma sociedade que transforma tal anulação em política de Estado, como dizia Sófocles, prepara sua própria ruína, elimina sua substância moral. Não tem mais o direito de existir enquanto Estado. E é isto que acontece a Tebas: ela sela o seu fim no momento em que não reconhece mais os corpos dos ‘inimigos do Estado’ como corpos a serem velados”.

Ou como diziam os carrascos de Auschwitz, que Safatle cita: “Ninguém acreditará que fizemos o que estamos fazendo. Não haverá traços nem memória.”

O Conversa Afiada oferece essa reflexão de Safatle a todos os brasileiros de Tebas que se comoveram com o destino de Eduardo, o motoboy assassinado por um sargento e oito soldados, dentro do 9º. Batalhão da Polícia Militar de São Paulo, na Casa Verde.

Eduardo é uma vítima de Creonte.


Paulo Henrique Amorim

Clique aqui para ler sobre Antígona e Eduardo.

Clique aqui para ir a “Leituras para se defender dos que defendem os torturadores”.

E aqui para ler “Apelo ao STF, com novo presidente”.

E “Manifeste-se contra a tortura”.