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Leitura para Serra e FHC: Tancredo, um conservador que não odiava o povo

O Conversa Afiada reproduz o texto do amigo navegante:No próximo dia 21, quarta-feira, completam-se 25 anos da morte de Tancredo Neves. Os mais jovens não sabem muito sobre isso. Mas eu lembro bem. Foi uma comoção nacional.
publicado 19/04/2010
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O Conversa Afiada reproduz o texto do amigo navegante Rodrigo Vianna, do escrivinhador:

No próximo dia 21, quarta-feira, completam-se 25 anos da morte de Tancredo Neves. Os mais jovens não sabem muito sobre isso. Mas eu lembro bem. Foi uma comoção nacional.

No dia 14 de março de 1985, o Brasil se preparava para a posse de Tancredo - como primeiro presidente civil depois da ditadura. Em casa, eu assistia a um especial de Chico Buarque na TV Bandeirantes (como a anunciar que a abertura estava concluída). O programa foi interrompido para a notícia bombástica: Tancredo não tomaria posse no dia seguinte. Sarney assumiu no lugar dele, Tancredo foi pro hospital, e seguiram-se  40 dias de agonia até a morte do mineiro, no simbólico dia de Tiradentes.

Reproduzo abaixo o belíssimo texto de Mauro Santayana, que fala de uma faceta pouco conhecida no velho político mineiro: a ligação de Tancredo com os trabalhadores (ferroviários, sobretudo).

Tancredo estava longe de ser um santo (foi dele, por exemplo, a idéia de "inventar" um parlamentarismo em 1961, para que os milicos aceitassem a posse do "comuno-trabalhista" João Goulart; muitos consideram, ainda, que ele traiu as Diretas-Já, aceitando ser eleito pelo Colégio Eleitoral, em 1985).

Tancredo era do PSD, partido das raposas. Mas o PSD - ao contrário da UDN - não tinha ojeriza ao povo...

O apoio do PSD foi fundamental para o velho PTB governar com Getúlio e com Jango. Tancredo foi ministro dos dois.

Em 1985, quando estava formando o governo, alguém lhe sugeriu o nome de Serra. reza a lenda que Tancredo teria dito: "não esse mocinho é muito ambicioso pro meu gosto". Tancredo sabia das coisas...

Hoje, o equivalente da UDN é o consórcio PSDB/DEM - apoiado pelos toscos comentaristas do Café Millenium. Da gravata desse povo, escorre a baba elástica e bovina do sentimento antipopular.

O PT ocupa o lugar do velho PTB varguista. E o PMDB é o PSD - mas sem  o velho brilho.  

No Brasil sempre foi assim: quando o PTB (PT) fecha com o PSD (PMDB), a UDN (demo-tucanos) se desespera e perde.

Dia desses, numa conversa com o blogueiro Eduardo Guimarães, eu comentava que tinham sumido de cena aqueles conservadores de velha estirpe. Homens que estavam longe de qualquer doutrina de esquerda, mas que gostavam do Brasil, eram democratas, sabiam conversar com o povo, tinham um interesse genuíno pelas pessoas...

Na elite paulista, por exemplo, é comum encontrar gente que tem como grande valor pagar escola bilíngue para os filhos. Gente que tem horror do Nordeste, da cultura popular, que prefere levar os filhos para Miami, antes mesmo dos pequenos conhecerem a Bahia ou Pernambuco... Imagino que em muitos outros estados brasileiros, a situação seja semelhante.

Entre esses conservadores de velha estirpe, incluo Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.

Mas já falei demais. O interessante é ler o Santayana... O artigo foi publicado pela "Revista do Brasil"