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MG: como opera(va) a máquina de censura do Aécio

Já imaginou a irmãzinha na SECOM, com a Receita e a PF sob controle ?
publicado 24/10/2014
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Saiu na Carta Maior:


Como opera a máquina de censura de Aécio em MG



Com o auxílio da irmã Andréia, o presidenciável tucano usa publicidade oficial para controlar a imprensa. Nos demais poderes, age impedindo o contraditório


por Najla Passos


No último sábado (18), a TV Band Minas não exibiu o programa Extraclasse, produzido pelo Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro Minas), como faz há seis anos, desde que a direção contratou um espaço de 20 minutos na grade de programação da emissora para se comunicar melhor com a categoria. Questionada pela diretoria do Sinpro Minas, a emissora justificou que não pode exibi-lo porque ia contra sua linha editorial.

O programa censurado faz críticas à gestão da educação em Minas Gerais, algo impensável de ser exibido pela imprensa mineira, há 12 anos subjugada ao projeto de poder tucano. Em alusão às comemorações pelo Dia dos Professores (15 de outubro), o Extraclasse discute os desafios da profissão docente no Brasil. E acaba por comparar dois diferentes modelos em execução no país: o implementado em Minas por Aécio e o executado no país pela presidenta Dilma Rousseff (PT), que concorre à reeleição.


“É um absurdo a emissora influir em um programa contratado pelo sindicato, cujo conteúdo é de nossa responsabilidade. Nós enviaremos o programa novamente no próximo sábado (25). Se não for exibido, tomaremos as providências jurídicas”, afirma o presidente do Sinpro Minas, Gilson Reais, um dos entrevistados da edição. Segundo ele, ao justificar que o programa contrariava sua linha editorial, a TV Band deixou clara a sua falta isenção na corrida eleitoral. “A Band apoia o projeto de governo de Aécio”, denuncia.


Atentado à liberdade de expressão


Presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Kerison Lopes afirma que a censura ao programa do Sinpro é apenas um dos muitos exemplos de como os governos do PSDB vêm atentando contra à liberdade de imprensa no estado. Segundo ele, logo após Aécio assumir o governo, em 2003, ocorreu uma onda de demissão de jornalistas responsáveis por reportagens desfavoráveis ao governo.


Não escapou nem mesmo o diretor regional de jornalismo da poderosa TV Globo, Marco Nascimento, que havia autorizado a exibição de uma matéria sobre uso de crack no centro da capital Belo Horizonte. Segundo ele, a jornalista e irmã do então governador, Andréia Neves, chegou a reclamar pessoalmente que esse tipo de reportagem prejudicava a imagem do futuro presidenciável. Como ele não se curvou ao “jornalismo chapa branca”, ela procurou o diretor geral de Jornalismo da Globo, Carlos Henrique Schoreder, no Rio de Janeiro, que demitiu Marco.


Ocorrências semelhantes resultaram na demissão do então editor do Estado de Minas, Ugo Braga, do repórter esportivo da Band, Jorge Kajuro, e do então apresentador da Rádio Itatiaia, Paulo Sérgio, entre outros. Todos os casos têm em comum o envolvimento direto de Andréia, a eminência parda do governador, nomeada por decreto dele para controlar toda a verba publicitária do Estado e, por meio dela, o que deveriam dizer ou não os veículos de comunicação. Sobre as demissões dos jornalistas mineiros, veja mais no vídeo “Liberdade, essa palavra”


Andreia só deixou o posto no início deste ano. Agora controla as três rádios e um jornal da família Neves. Todos eles ainda recebem verbas do governo do estado, cujo valores não são divulgados. Líder da oposição na Assembleia de Minas, o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) estima que os gastos de publicidade do estado, hoje, consumam em torno de meio milhão. Ele, que foi secretário do governo Itamar Franco, lembra que, em 1999, os gastos do estado com publicidade era de R$ 900 mil. “Quando Aécio assumiu, em 2003, elevou para R$ 258 milhões”, relata.

 

Pior do que na ditadura


Para o parlamentar, a censura de hoje em Minas é pior até mesmo que a da ditadura. “Os militares calavam os jornais com seus canhões, mas a censura econômica de Aécio não só cala a imprensa, como a obriga a aderir ao seu projeto político de chegar ao Palácio do Planalto”, afirma. Sávio Souza Cruz avalia que a política de comunicação tucana em Minas cria um estado ilusório que contrasta com o real, vendendo a imagem de bom gestor de Aécio pelo país afora. “Aécio é a antítese dele próprio, porque tudo que fala, ele faz ao contrário”, acusa.


Como exemplo, o deputado cita os principais traços trabalhados pela publicidade oficial do presidenciável. “Aécio se gaba de ser um bom gestor, mas quebrou o estado. Quando ele assumiu, herdou uma dívida com o governo federal de R$ 24 bilhões que ele aumentou para R$ 80 bilhões e ainda contraiu outra de R$ 27 bilhões”, denuncia. Contesta também a promessa do candidato de reduzir a máquina pública. “Aécio fala em reduzir ministérios e demitir servidores, mas quando foi governador de Minas contratou mais 120 mil cargos comissionados”, contabiliza.


Sávio Souza Cruz critica ainda o fato de que o tucano promete reduzir a carga tributária brasileira, depois de transformar a mineira em uma das mais altas do país. “O estado ostenta o maior ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços) sobre energia elétrica e combustível, além do maior ITCD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos) do Brasil”, afirma. Lembra, também, que Aécio critica o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mas, sob sua administração, Minas ficou em 22º lugar no ranking de estados do país, abaixo da média nacional.

 

Controle dos demais poderes


Para o deputado Sávio Souza Cruz, a obsessão do presidenciável Aécio Neves em controlar a liberdade de expressão atinge todos os poderes de Minas. “No estado em que a palavra liberdade é tão cara, não existe mais nenhum contraditório”, afirma. Segundo ele, o legislativo é corriqueiramente tratorado pela maioria tucana. Desde que Aécio assumiu, há 12 anos, a Assembleia do Estado só aprovou a criação de três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), e nenhuma delas para investigar o governo. “Nada é investigado”, lamenta.


No Tribunal de Contas do Estado (TCE), o deputado garante que a situação não é diferente. “Há 12 anos, Minas Gerais não respeita o mínimo constitucional para investimento em saúde e educação. E, mesmo assim, as contas do governo são aprovadas. É um verdadeiro Tribunal de Faz de Contas”, denuncia.


Exemplo de como funciona o TCE ocorreu após o debate da Band, em 14/10, quando a presidenta Dilma acusou Aécio Neves de desviar R$7,6 bilhões da saúde. O tucano disse que ela estava mentindo e, então, Dilma convidou os eleitores a acessarem o site do TCE. Naquela noite, o site saiu do ar. No dia seguinte, os documentos citados por Dilma desapareceram por cerca de 4 horas, até a imprensa denunciar a manobra. A presidenta do TCE, Adriane Andrade, foi indicada por Aécio e é casada com Clésio Andrade (PMDB), vice-governador dele no primeiro mandato.


O deputado acusa até mesmo o Ministério Público Estadual (MPE) de ter sido subjugado por Aécio. “Quando era governador, ele podia sempre contar com o então procurador-geral de Justiça, Alceu Torres, que matava no peito todas as denúncias contra os tucanos. Tanto que foi promovido a secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento do governador Anastasia, que sucedeu Aécio”, revela.

 

Alerta aos brasileiros


O presidente do Sindicato dos Jornalistas acrescenta que a opressão à liberdade de expressão é tão suntuosa que os jornalistas do estado, preocupados que o padrão se estenda para o país com uma possível vitória de Aécio nas eleições, decidiram lançar o Manifesto dos Jornalistas Mineiros ao Povo Brasileiro, em assembleia geral realizada em 15/10, no qual alertam os eleitores sobre os riscos que tais práticas representam para a democracia.


No documento, eles avaliam que a cobertura da mídia mineira sobre as eleições é claramente favorável ao tucano. “Tais fatos, públicos e notórios, são sobejamente atestados por instituições de pesquisa e monitoramento da mídia, revelando uma tentativa de corromper a opinião pública e de decidir o resultado das urnas”, denunciam. Eles afirmam também que “a atividade jornalística e a atuação dos profissionais foram diretamente atingidas pelo conluio explícito estabelecido entre o governo e os veículos de comunicação, com pressão sobre os jornalistas e a queda brutal da qualidade das informações prestadas ao cidadão mineiro sobre as atividades do governo”.


De acordo com Kerison Lopes, embora o documento não tenha conseguido nenhum espaço nos órgãos da imprensa convencional, atingiu um grande número de eleitores brasileiros por meio da internet, o “Calcanhar de Aquiles” do projeto de comunicação do tucano. “Aécio não entende de democracia. E muito menos de democracia digital. Tenteou censurar até os sites de busca, como o Google, mas não conseguiu nada. A rede é um universo que, ao contrário da mídia convencional, ele não consegue comprar”, afirma.