Economia

Você está aqui: Página Inicial / Economia / 2015 / 04 / 30 / Haroldo: o petróleo ressurge !

Haroldo: o petróleo ressurge !

"No setor petrolífero, as oportunidades nunca desaparecem, refluem em momentos de crise. A mudança de fatores da crise pode fazer ressurgir as oportunidades desaparecidas. "
publicado 30/04/2015
Comments



O Conversa Afiada reproduz artigo de Haroldo Lima:


Ressurgem oportunidades no petróleo




No setor petrolífero, as oportunidades nunca desaparecem, refluem em momentos de crise.  A mudança de fatores da crise pode fazer ressurgir as oportunidades desaparecidas.

No Brasil, neste momento, três fatos alimentam a expectativa desse ressurgimento: a divulgação do balanço da Petrobras referente a 2014; os empréstimos firmados pela estatal com bancos estrangeiros e brasileiros; e o anúncio feito pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) da realização próxima da 13ª Rodada de Licitações de Blocos Exploratórios.  

O balanço recém-divulgado mostrou o tamanho do problema que afetou a Petrobras. Mas salientou, por outro lado, a solidez dos fundamentos da empresa, que permitiu a ela sinalizar perspectivas otimistas, apesar de tão grande revés.    

O extraordinário prejuízo de R$21 bilhões, anunciado no balanço de 2014, destoa drasticamente do sucedido nas últimas duas décadas nessa empresa.

Entre 1995 e 1999, primeiros cinco anos dos governos de FHC, a média dos lucros da estatal foi de R$1,19 bilhão. Nos três anos finais do mesmo governo, foi de R$6,93 bilhões.  Saltou para R$25,5 bilhões nos dois governos de Lula, entre 2003 e 2010, com o recorde de R$35,19 bilhões em 2010. Nos três primeiros anos do governo de Dilma, entre 2011 e 2013, a média foi maior que a do governo de Lula, R$25,9 bilhões. E, de repente, o desastre de 2014, com R$21,587 bilhões de prejuízo.  

A corrupção foi a causa mais alardeada dessa perda, e é a que provoca mais indignação, mas não foi a causa principal.  Pelo balanço, a corrupção, concentrada em 2014, é responsável por R$6,194 bilhões do prejuízo da empresa, cifra enorme, mas que corresponde a 29% dos R$21,587 bilhões do prejuízo total. Outros fatores foram responsáveis pelos 70% restantes.    

Avulta, assim, a importância da desvalorização de ativos, que atingiu a marca estrepitosa de R$44,6 bilhões, e que tem a ver com erros de planejamento, governança e, sobretudo, com o principal problema atual do setor do petróleo no mundo, a queda dos preços do hidrocarboneto.

Foi esse fator que jogou para baixo os resultados das maiores petroleiras do mundo. A ExxonMobil, a Chevron e a Shell viram seus lucros reduzidos em 21%, 30% e 57%. A ConocoPhilips ficou no negativo com US$39 milhões e a BP amargou US$4,4 bilhões de prejuízo no quarto trimestre de 2014. O cenário geral adverso ainda recomenda cautela. Segundo analistas, dito cenário pode perdurar até o meio ou até o fim de 2015.

É nessa situação, e a despeito do endividamento de R$351 bilhões, que a Petrobras planeja sua recuperação. Apoia-se em seus fundamentos, o mais expressivo dos quais é a enorme reserva de petróleo sob sua alçada. Em áreas sob concessão, partilha e cessão onerosa na região do pré-sal, essa reserva totaliza algo como 40 bilhões de barris.

O segundo fato digno de realce são os empréstimos da Petrobras com instituições financeiras.  

Com o atraso na apresentação de seu balanço auditado, a estatal estava ameaçada de ter praticamente obstruído seu acesso ao sistema financeiro mundial. Nesse quadro, ter conseguido empréstimos de R$29,66 bilhões, foi uma grande vitória. Mostra que grandes bancos, estrangeiros e brasileiros,  não tiveram dúvidas em confiar nos sólidos fundamentos da Petrobras. O Banco de Desenvolvimento da China acertou empréstimo de R$11 bilhões;  o Banco do Brasil liberou R$4,5 bilhões;  o Bradesco, R$3 bilhões; a  Caixa Econômica Federal,  R$2 bilhões e o banco britânico Standard Chartered, em um acordo de cooperação, R$9,16 bilhões. A companhia assegurou, já no início de 2015, recursos para financiar suas necessidades por todo o ano em curso.

Por último, a ANP anunciou sua 13ª Rodada. O país retoma, assim, a ampliação das áreas a serem exploradas em busca de petróleo ou gás. Este é um tema de grande importância.

Nosso país, com 5 milhões de km2 de bacias sedimentares em terra e 2,5 milhões de km2 no mar, tem apenas 5,5% de área concedidos a petroleiras, à Petrobras inclusive,  e quantidades ínfimas sob partilha e sob cessão onerosa. A área em exploração é uma parcela muito pequena desse total para as dimensões do Brasil. Quando rodadas atrasam, a área em exploração definha: se petróleo é encontrado, passa a ser área em produção; se não o é, a área é devolvida à ANP. Pode-se imaginar o prejuízo que tivemos quando passamos quase cinco anos sem rodadas licitatórias.    

Sente-se entre nós certa hesitação ou receio na realização de rodadas. Para o país que necessita de investimentos, isto é um paradoxo, pois é através das rodadas que os investimentos chegam. E nossos concorrentes não titubeiam. O México pretende realizar, só neste ano, cinco rodadas.

Isto nos remete a outro desafio: a 13ª Rodada precisa ter blocos e apresentar condições que despertem interesse, sem o que pode não atrair investidores e não cumprir seu papel de fomentar desenvolvimento.

O objetivo desenvolvimentista deve estar presente também nos “desinvestimentos” de R$13,7 bilhões anunciados pela Petrobras.

Merece elogios o anúncio de que não haverá desinvestimento no pré-sal, nem em ativos estratégicos. Mas é necessário observar que “desinvestimentos” da Petrobras devem servir para ampliar a atividade produtiva em locais hoje carentes de investimentos e iniciativas, por não serem fundamentais à Petrobras.

Ao Brasil interessa, não só uma estatal poderosa, mas um setor petroleiro privado forte. Esse setor tem tido pouco apoio governamental e enfrenta dificuldades para se afirmar e se desenvolver, o que é ruim para o Brasil.  As empresas do setor poderiam ser envolvidas no problema, em busca de soluções, convocadas a fazer manifestações de interesse nos ativos a serem dispensados pela estatal. Assim, “desinvestimentos” podem se transformar em oportunidades.

Haroldo Lima é engenheiro, consultor de petróleo e ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis




Veja também:


Vídeo exclusivo: privatização é a maior ameaça à Petrobras



História: como Lula reagiu à descoberta do pré-sal



Ação da Petrobras salta quase 50%. Chora, Moro, chora