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Diretor do Banco Mundial elogia o Bolsa Família

Economista vê o que os urubólogos não enxergam: o programa não gera dependência.
publicado 01/04/2014
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O Conversa Afiada reproduz trechos da entrevista da IstoÉ com Arup Banerji, diretor do Banco Mundial:


"O Bolsa Família não gera dependência"



por Michel Alecrim

O diretor do Banco Mundial defende que os programas de transferência de renda são fundamentais para garantir uma alimentação adequada e, assim, um futuro às crianças


(...)


Istoé - O programa Bolsa Família é eficiente no combate à pobreza?
Arup Banerji - Há muitos anos, o Banco Mundial vem avaliando o que funciona ou não nas políticas de transferência de renda. O Bolsa Família passou a ser uma experiência muito discutida por conta de alguns aspectos importantes. Em primeiro lugar, porque foi ambicioso na escala que tentou atingir. Muitos países que adotaram programas parecidos usaram um esquema de cima para baixo. O Estado apenas se preocupa em transferir dinheiro para os pobres. O Bolsa Família fez uma inversão, pensando primeiro na pessoa. E os bons resultados estão sendo comprovados através de pesquisas científicas. Não são apenas comentários.


Istoé - Por que frisa a importância de dar atenção à pessoa?

Arup Banerji - Vou dar um exemplo. Se você digitar Bolsa Família no Google Imagens, a foto mais comum que vai aparecer é de uma pessoa  sorrindo e segurando o cartão do programa. Para muitas dessas pessoas esse cartão mostra que estão vinculadas ao Estado pela primeira vez. Pessoas pobres muitas vezes não se sentem parte de um país. São subjugadas, tratadas como se fossem de fora. O cartão estabelece uma relação legal e formal com o Estado. Equivale a dizer: ‘O País valoriza você e sua família e por isso estamos repassando esses recursos.’ A pessoa passa a ser cidadã de um país e, consequentemente, começa a valorizar a educação dos filhos, a criá-los bem nutridos, e os filhos, por outro lado, passam a cuidar mais de suas mães. Cria-se, assim, uma relação de mútua responsabilidade. Esse é um dos aspectos centrais do Bolsa Família.


Istoé - Uma das principais críticas a esse tipo de programa é a dependência que supostamente gera, e não autonomia.

Arup Banerji - No caso do Brasil, eu não concordo com isso. Em outros lugares do mundo, talvez. O que significa a dependência econômica? Em poucas palavras, seria o seguinte: a pessoa que recebe ajuda chega à conclusão de que é melhor não fazer nada o dia inteiro e não procurar emprego porque o valor recebido compensa. O segredo do sucesso é que o pagamento não seja tão alto que leve a esse tipo de situação nem tão baixo que não dê nem para as famílias se alimentarem. É importante que o benefício não chegue a um salário mínimo. Estudos comprovam: depois de dez anos do Bolsa Família, não há dependência.

(...)