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Cidade da calcinha erradicou o desemprego

Empreendedorismo cresce no interior do Brasil e gera empregos. Chora, Urubóloga, chora!
publicado 06/09/2013
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Nessa sexta-feira (06) até domingo (9), acontece, em Vargem Grande, leste de Minas, a Festa da Lingerie.

Vargem Grande, que só é grande no nome, é um distrito do município de São João de Manteninha, e tem menos de 3 mil habitantes.

Apesar de pequena, Vargem Grande - que está a 450 quilômetros de Belo Horizonte, e a 110 quilômetros de Governador Valadares, maior cidade da região - tem uma inacreditável produção de lingeries.

Segundo Emerson Silva Xavier, 41, presidente da recém-formada associação de empreendedores da região, existem hoje em Vargem cerca de 40 confecções.

Juntas, essas empresas faturam mais de 2 milhões de reais por mês; empregam cerca de 600 pessoas com carteira assinada e produzem nada menos que 1 milhão de peças mês, entre calcinhas e sutiãs dos mais diversos modelos.

O sucesso de Vargem Grande, que antes vivia essencialmente da agricultura, deve-se ao espírito empreendedor da dona Ilza Maria de Mendonça, 59 anos.

Há 30 anos, dona Ilza, que já era costureira, trouxe de Belo Horizonte um molde para produção de lingerie.

Com duas máquinas e uma única colaboradora, a irmã, dona Ilza começou o negócio na sala de casa.

A dona Ilza costurava, os pedidos aumentavam e, junto com eles, as vendas.

Conforme o faturamento crescia, dona Ilza comprava mais máquinas.

Sempre a vista, nunca usou crédito. Até porque Vargem Grande nunca teve banco.

O Sicoob, Sistema de Cooperativa de Crédito do Brasil, só chegou lá recentemente, com ajuda do Sebrae. “Hoje tá fácil, tem muita gente comprando máquina com empréstimo por aqui”, explica.

Hoje, dona Ilza tem 100 máquinas; emprega 56 pessoas, produz 70 mil peças por mês e tem a sua própria marca, a Meury Kiss.

Das costelas da Meury Kiss, outras empresas surgiram.

Irmãs, sobrinhas, cunhadas e vizinhas que trabalharam com dona Ilza e que acabaram montando seus próprios negócios.

É o caso da filha de dona Ilza, Elizangela Mendonça, mulher do Emerson Silva Xavier, que hoje preside a associação de empreendedores.

Eles são donos da Love Life - maior confecção da região - têm 100 funcionários e faturam uma média de 750 mil por mês.

Apesar do isolamento – em Vargem Grande não tem antena de celular; a internet é via rádio; e pra chegar são sete quilômetros de estrada de terra – mesmo com tudo isso, as vendas vão muito bem, obrigado.

Segundo dona Ilza, a produção de setembro, outubro, novembro e dezembro já está vendida. Em janeiro, as confecções param em férias coletivas e voltam só em fevereiro.

As confecções mantém um esquema de representantes comerciais que vendem os produtos da região para todo o país.

Eles pensam em expandir as vendas para o exterior, mas o problema deles é mão de obra. Não tem desemprego na região de Vargem Grande, pelo contrário, falta gente.

Com ajuda do escritório do Sebrae no município de Aimoré, distante 120 quilômetros de Vargem Grande, as confecções têm se profissionalizado.

“Tinha muita gente no fundo do quintal, com medo de investir” explica Emerson.

Segundo ele, o Sebrae trouxe cursos para ensinar como fazer preços; como produzir embalagens e logomarcas.

Depois, o Sebrae ensinou os empresários a organizarem ''células de trabalho'' dentro das confecções, mudando a forma de trabalhar para aumentar a produção e, assim, minimizar a falta de mão de obra.

Agora, os empresários de Vargem Grande e o Sebrae firmaram uma nova parceria para trazer cursos de modelagem, profissionalizando a criação dos produtos manufaturados na região.

Eles também pretendem criar uma revista para divulgar as tendências que serão lançadas por esses futuros estilistas locais.

Aos poucos, novos empreendimentos vão se formando. Recentemente, dois restaurantes foram abertos, não havia nenhum.

A construção de um hotel,  que permitirá aos compradores e fornecedores hospedagem, já está nos planos da comunidade.

Assim como a realização de feiras e eventos como a Festa da Lingerie, que começa hoje.

A festa é o primeiro passo nesse salto qualitativo na produção da região, que agora, vai ter até desfile de moda.  

Murilo Silva, editor do Conversa Afiada.

(*) Foto: Quemel de Oliveira Ferreira/Portal Vargem Grande