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A medalha da Inconfidência e a insatisfação da elite mineira

Além da medalha a Stédile, a cerimônia teve outra novidade: a praça foi aberta ao povo.
publicado 29/04/2015
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O Conversa Afiada reproduz artigo de Sandro Abreu:


A medalha da Inconfidência e a insatisfação da elite mineira



A indignação de políticos conservadores e de parte do empresariado mineiro com a medalha da inconfidência concedida ao líder do MST, João Pedro Stédile, escancara o que está posto no Brasil neste momento: a elite não aceita mais o povo no Poder. É isso. Isso é mais forte do que a crise econômica e do que a corrupção que está sendo desvendada após décadas de assaltos aos cofres públicos. Não é por simples insatisfação que entidades empresariais gastaram uma boa grana para publicar uma nota de repúdio em jornais mineiros. Curiosamente, a nota saiu publicada na mesma página que trouxe a notícia da aprovação da terceirização.

Políticos, artistas, juristas, empresários, jornalistas, ativistas e uma gama enorme de pessoas de todo o Brasil já foram condecoradas com a medalha, incluindo o amigo do rei Luciano Huck e o “grande empresário” Eike Batista, que tanto explorou as riquezas mineiras de Minas Gerais, prejudicando gente simples e humilde das comunidades rurais do interior, como por exemplo, em Conceição do Mato Dentro. Mas o Stédile não pode ganhar. O “grande jornal dos mineiros” chegou a colocar como intertítulo da matéria sobre o evento: bandido.

Alguns homenageados mais conservadores já anunciaram que irão devolver suas medalhas e o PSDB protocolou Projeto de Resolução na Assembleia Legislativa para cassar a medalha de Stédile. Hoje deputados da oposição e alguns manifestantes nas galerias do Plenário da ALMG, entre eles, o filho de Pimenta da Veiga, candidato do PSDB ao governo do Estado, derrotado pelo PT, usaram cordas vermelhas no pescoço para continuar o lamento sobre a medalha concedida a um líder de movimento popular. Então é isso, a aristocracia pode receber, o rebelde não.

O interessante é que foi justamente isso o que aconteceu com Tiradentes. De todos os inconfidentes, ele foi o único sentenciado à morte. O motivo? Ao contrário dos outros, não tinha alta patente, era de classe baixa e não pertencia à elite das minas gerais. Os demais receberam penas mais brandas.

Embora a Inconfidência Mineira tenha sido um movimento da elite mineira revoltada com a derrama, alguns ideais marcaram o movimento como a luta contra a exploração das terras mineiras pela Coroa portuguesa, luta pelo direito dos colonos e por liberdade. Bandeiras parecidas com as do MST. Tiradentes foi alçado a herói após a proclamação da república, e sua imagem trabalhada estrategicamente para associá-lo a Jesus e à simplicidade, reforçando a representação de homem do povo e do bem. Mas um homem do povo, um rebelde não pode receber a medalha que lembra justamente a conjuração e a rebeldia dos mineiros.

Mas além da medalha a Stédile, a cerimônia dos Inconfidentes promovida pelo governo petista, em Ouro Preto, no último dia 21, trouxe mais uma novidade: a praça foi aberta ao povo após 12 anos de cerimônias fechadas. O governador enfrentou manifestação, mas manteve sua postura democrática e popular. Stédile é povo. Esse foi o 21 de abril deste ano em Minas Gerais.

Talvez Tiradentes, pelo menos a imagem forjada ao longo do tempo, esteja mais satisfeito agora...

Sandro Abreu - BH/MG



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Na foto, o que a elite mineira quer fazer com Stedile ("Tiradentes", de Pedro Americo)