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Lock out: a origem é a privataria !

Greve com criminoso tocando fogo e barbarizando com os próprios colegas é desordem.
publicado 27/02/2015
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​O Conversa Afiada reproduz ​artigo de Roberto Lamparina, que foi caminhoneiro:


"GRITO MUDO"



Explicar os motivos que tem levado ao constante estado de greve a maior classe trabalhadora desse país não é fácil e nem tampouco rápido, porém tentarei fazê-lo de forma sucinta e inteligível até para leigos ou os que não tenham percepções para além do seu campo de experiências.

Eu conheci o mercado do transporte quando ele era uma atividade rentável e economicamente possível, portanto, tenho às referências para apontar os problemas no setor.

O mercado deixou de ser rentável e possível a partir da concessão criminosa da malha viária nos estados de SP (muito mais porque colocou pedágio até em carreador de cana), PR e RS, portanto, o setor está em crise desde então, com o estopim deflagrado na grande greve de 1999. De lá em diante nada foi feito para resolver o problema e também não será feito agora. Somente paliativos para destravar estradas e voltar ao trabalho.

O setor é gigante, é ágil e sempre funcionou melhor na forma caótica como sempre foi. São diversos segmentos de pouca ou nenhuma representatividade sindical ou, que minimamente possa reger seus interesses. Com raras exceções, pois o sindicato dos cegonheiros e o dos caçambeiros de Santos/Cubatão e de Paranaguá são fortíssimos e levam seus interesses até às últimas consequências para que possam continuar sobrevivendo dignamente. O resto não se entende, não fala a mesma língua e sequer sabem das prioridades alheias. O resultado é isso, quando a situação chega ao ponto limite, fazem uma greve sem planejamento e nem sabem eleger prioridades conjuntas nas reivindicações.

Voltando lá nas privatizações criminosas das estradas de meados dos 90, foi ali que o caos foi instituído, pois os governos estaduais aumentaram vertiginosamente o custo do transporte e, entregou o repasse ao mercado e à lei da oferta e de procura. Acontece que o setor de transporte é estratégico e não pode sobreviver sobre essa bandeira, já que existem períodos em que a frota nacional é insuficiente numericamente (3 meses do auge da safra de grãos) e depois é ociosa, sendo a demanda da necessidade menor do que a oferta. Não dá para o setor sobreviver só por 3 meses e depois encolher. Ele tem que ter o mesmo tamanho nos 12 meses do ano, já que o custo operacional é nesta medida. A solução seria a criação de uma tabela de custo mínimo para o preço do km/rodado, assim como tem o transporte aéreo e o rodoviário de passageiros, que operam sob regras mínimas estabelecidas. Sabem quanto vão receber, quanto vão gastar e o que sobrará para investimentos e manutenção do negócio. O transporte rodoviário de carga não se sabe de nada, pois o preço da tonelada que era R$ 350,00 no auge da safra, cai para 200 no mês seguinte e como a oferta é maior do que a procura, permanece lá até a próxima safra.

Para o transporte em si, não importa a que tipo de infraestrutura estaremos submetidos, mas sim quanto receberemos por essa infraestrutura deficiente.

Eu conheci o mercado quando tínhamos poucas estradas asfaltadas nos estados do Norte e Centro-Oeste e tinha rentabilidade, pois a procura era maior do que a oferta. Hoje temos até estradas em boas condições, mas o mercado regido pela lei da oferta e da procura só te permite respirar por 3 meses, passando os outros 9 sufocado.

Portanto, não é o custo dos pedágios e nem o preço do combustível que emperra o transporte, mas sim, que no mercado não existe uma válvula que permita que esses aumentos nos custos sejam repassados de imediato.

Diminuir a frota naturalmente pela lei da oferta e da procura não é possível, haja vista os períodos de pico de safra. A busca da solução é única - criar um preço mínimo para que a frota possa rodar sem prejuízos o ano todo e atender a demanda como sempre atendeu com competência e agilidade, pois o transporte rodoviário é o único que realmente cumpre com este papel. Quem acompanha minhas postagens sobre o assunto já leu a respeito de todos os enganos e inverdades da matéria.

Devido a esta disparidade entre a lei da oferta e da procura, o crédito com juros subsidiado para a renovação de frota - que foi possibilitado a partir do governo Lula pelo BNDES -, passou a ser utilizado apenas por grandes transportadores, que por serem grandes - pelo quesito da quantidade movimentada -, suportam essa entressafra negativa no caixa. O sujeito que tem 2 ou 3 caminhões pagando prestação não consegue pagá-las e manter os veículos em condições. Já a empresa que tem 1000, 300 pagos e o resto em diversos estágios de quitação, segue levando aos trancos e barrancos, cortando custos aqui e ali e vai tentando sobreviver no mercado.

Aí é que está outro fator estratégico que deveria ser prioridade no mercado do transporte, pois caminhões mal conservados e com manutenção encurtada são bombas prestes a explodir e um risco pra todos nas estradas ou em qualquer lugar que estejam.

O pedágio pode ir a R$ 100,00 por eixo, pagar todos até os estepes; o óleo diesel pode ir a R$ 10,00 o litro; desde que esses custos sejam repassados imediatamente ao preço do transporte, tudo continuaria equilibrado, já que é o consumidor final quem paga tudo. Mas, do jeito que está com o setor absorvendo todos esses aumentos sem ter como repassá-los, chegamos ao derradeiro fim de um setor que, por ser gigante e devidamente desorganizado pelos que dele tiram proveito exatamente por assim ser, vez por outra estaciona espontaneamente pela simples impossibilidade de seguir adiante.

Eu participei da grande greve de 1999 (aprendi a lição) e desde então me recuso a tomar parte de qualquer tipo de movimento do setor, pois conheço e sei das dificuldades de se mobilizar e organizar um setor monstruoso que ninguém quer que ele se organize.

Greve se faz em casa (eu estou em greve na minha casa faz uma semana) e ninguém da Força Nacional de Segurança bateu na minha porta para me forçar a voltar ao trabalho.

Os que reclamam pelo fato do governo se valer da Lei e do Direito Constitucional para desobstruir estradas são os mesmos que desorganizam o setor, pois sabem que estão cometendo crime ao impedirem os demais cidadãos do sagrado direito de ir e vir. Pior ainda os que vandalizam, tocam fogo e apedrejam os que não aderem ao movimento, cometendo crimes contra os próprios colegas, vítimas do mesmo mal que os assola mutuamente.

Portanto, esse negócio de ficar querendo que abaixe preço de diesel e pedágio é uma total ignorância de quem, por não ter conhecimento do setor, fica tentando tumultuá-lo. Ainda mais agora, que tudo quanto é imbecilidade acaba virando motivo de desestabilizar o governo legitimamente eleito pela maioria.

Greve se faz em casa, mas pra isso a categoria teria que ser unida para que possa se valer da sua força e do seu poder de barganha. Greve com criminoso tocando fogo e barbarizando com os próprios colegas, é desordem e não livre manifestação do direito de buscar melhorias para a categoria, que está nos seus momentos terminais e não é culpa de nenhum órgão de governo em nenhuma esfera, pois quem sente dor grita e a classe não se une para gritar!!!

No: http://robertolamparina.zip.net



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